Reviews e Recomendações de Livros de Psicologia
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Temas: Autocompaixão: Feminimo; Igualdade de género; Autocuidado; Ativismo
Mais um livro muito pertinente de Kristin Neff que solidifica a sua posição como uma das minhas cientistas favoritas.
Este livro, ao contrário do primeiro que é um pouco mais geral, foca bastante no significado de ser mulher e das consequências que esse papel traz para a nossa saúde mental, mostrando como beneficiamos do uso da autocompaixão num mundo que nos vê não só como inferiores, mas como cuidadoras constantes de todos à volta menos de nós mesmas, muitas vezes, até em detrimento de nós mesmas!
Neste livro, Neff distingue 2 tipos de autocompaixão, a benevolente e a destemida. Sinto que esta abordagem é mesmo muito interessante, pois, tão importante é que eu me acolha nas minhas dificuldades e aceite que não são infalível, como que me zangue e deixe a minha fúria crescer ao ponto de querer mudar as minhas circunstâncias para melhor. O que seria do ativismo pela igualdade de géneros sem a parte da autocompaixão destemida? A raiva é TÃO útil quando bem empregue! Este equilibro entre yin e yang não só é fundamental para o nosso bem estar, como revolucionário.
Quote favorita:
"A expectativa de que estamos aqui para cuidar dos outros é um aspecto central do papel tradicioonal das mulheres. Ao desempenhá-lo porém, corremos o risco de ser engolidas vivas, se não dedicarmos a mesma energia à satisfação das nossas necessidades individuais"
e
"E o que fazemos com a raiva reprimida à conta da injustiça no local de trabalho? Ora, raiva é uma coisa boa certo? Se tivermos medo de estarmos zangadas, nada vai mudar. Precisamos de estar zangadas, porque é a única maneira de utilizarmos esta energia protetora para o bem comum"
Temas: Autocompaixão; Bondade Amorosa; Mindfulness; Aceitação; Humanidade Comum
Este livro é uma das minhas grandes bíblias enquanto psicóloga. Recomendo a leitura a qualquer pessoa. A autora é a maior estudiosa e produtora científica mundial na área da autocompaixão, por isso não podias estar melhor entregue.
Contem capítulos teóricos que sempre terminam com um relato da vida pessoal, onde a autora tem a coragem de partilhar detalhes bem privados acerca da sua vida íntima e revela ações suas nas quais certamente o julgamento crítico teria sido o caminho com tendência a seguir, nomeadamente, a infidelidade que cometeu no seu primeiro casamento. Acho isso altamente corajoso, é um exemplo que uso em clínica bastantes vezes, para demonstrar que a autocompaixão não é aceitar os nossos próprios erros de uma forma conformista e condescendente. Mas sim, aceitar que eles
acontecem, assinalá-los e com carinho e autocompaixão tentar fazer melhor da próxima vez.
Um pai permissivo é aquele que diz ao seu filho que teve uma negativa a matemática que está tudo bem, se for preciso amanhã vem outra negativa e o mundo não acaba. Um pai crítico chamar-lhe-ia burro e diria que nunca será ninguém na vida. Um pai compassivo diria que realmente aquela não foi uma boa nota, o mundo efetivamente não vai acabar por isso, no entanto a escola é importante e demonstraria disponibilidade em ajudar a criança com aquilo de que ela precisa, estudar com ela, providenciar explicação, etc. Mudar uma situação indesejada através de amor, carinho e acolhimento. Não de julgamento, humilhação e crítica.
Quão melhor seria a nossa saúde mental se o nosso diálogo interno fosse semelhante ao diálogo que temos com os nossos amigos?
Lê este livro para que te possas tornar amiga de ti mesma!
Quote favorita:
“A autocompaixão honra o facto de todos os seres humanos serem falíveis”
Temas: Fome emocional; Perda de Peso e Emagrecimento, Saúde física e mental
Enquanto psicóloga, a Terapia da Aceitação e Compromisso (ACT) é um dos principais métodos que aplico e é a premissa de todo o livro. A ACT passa por descobrir como é a vida que desejo viver, aceitar o que não posso mudar e não deixar de fazer o que precisa de ser feito para atingir essa vida. Esta forma de ver o emagrecimento é bastante enriquecedora, pois olha para a perda de peso como uma forma de viver bem, ganhar anos de vida ativos e evitar doenças físicas. Em vez de uma forma de resolver algo que está errado comigo – com base no auto-ódio. E é exatamente esta a “armadilha das dietas” - realizá-las pelos motivos errados e com expectativas completamente irrealistas (ex: quando for magra vou resolver o problema X). A mudança física até pode ser alcançada, mas sem mudança psicológica é apenas uma questão de tempo até o peso regressar todo novamente (se não mais!). Assim, os autores explicam os mecanismos pelos quais realizamos comida
emocional, e como as emoções precisam de ser sentidas e geridas e não “comidas”. Comer para me sentir melhor funciona como uma anestesia emocional. O seu efeito, existe, mas é curtíssimo, e no fim...o que nos fez sentir mal continua lá intacto e ainda juntamos o sentimento de culpa e remorso por ter comido.
Acredito que seja um livro diferente de todos os que já podes ter lido sobre este tema!
Além da abordagem inovadora, é também bastante prático com exercícios bem detalhados em cada capítulo.
Quote favorita:
“De um modo geral, podemos todos beneficiar-nos em ficar um pouco mais à vontade com o estar insatisfeito”.
Temas: Perturbação Obsessivo-Compulsiva; Ansiedade
Este foi o primeiro livro que li acerca de uma perturbação de saúde mental, escrito na perspectiva de uma pessoa com a perturbação e não da de um profissional de saúde.
É um contributo riquíssimo para a área. Muitas vezes ouço na consulta relatos de pessoas que se sentem sozinhas com o seu diagnóstico, diferentes dos outros, o António Raminhos pode ajudar a mitigar esse sentimento com este autorrelato poderosíssimo. Faz-nos perceber que várias cabeças pensam da mesma maneira!
O seu percurso terapêutico é também bastante interessante e com grande foco na aceitação dos sintomas da perturbação que nunca são 100% eliminados ou que até o podem ser, mas de vez em quando fazem uma visita. Mais do que controlar o sintoma, há que fazer o que precisa ser feito para vivermos uma vida que faz sentido para nós e, aceitar que muito foge do
nosso controlo. Muitas vezes é exatamente da necessidade de controlo que vem o sofrimento.
Quote favorita:
"Temos de celebrar os dias bons, mas sobretudo ter compaixão pelos maus! E ter compaixão por eles é isto mesmo! É saber que estão lá, que existem, que fazem parte, compreender que têm uma razão de ser mesmo que não entenda nessa momento."
Temas: Estilos de Vinculação; Relações Amorosas; Ansiedade; Evitamento
Os estilos de vinculação têm ganhado popularidade mais recentemente e suscitado o interesse de muitas pessoas. Acho este livro uma fonte credível para quem tiver interesse em explorar mais o assunto.
Quanto ao estabelecimento de vínculos românticos, os autores dividem as pessoas em 3 grupos:
-
Ansiosas – constante medo e insegurança que a relação não resulte e termine
-
Evitantes – a intimidade para eles é altamente desconfortável e vista como um ataque à sua liberdade pessoal (apesar de também desejarem o vínculo!)
-
Seguras - são calmas e tranquilas quanto à relação que têm com o vínculo amoroso
Ao longo desta leitura podes descobrir qual o teu estilo de vinculação, e o do teu parceir@ e perceber o que isso significa para vocês individualmente e no contexto do vosso relacionamento. O autor apresenta mesmo questionários de autorresposta que podes cotar depois de preencher. E vai descrevendo casos de pacientes que é algo que adooooro em livros de psicologia.
Talvez a única coisa que não gostei tanto tenha sido a forma como os autores por vezes parecem “defender” as pessoas com estilo ansiosa e colocar-se contra as pessoas “evitantes”. Em alguns momentos senti que os ansiosos eram facilmente compreendidos enquanto que uma vez ou outros, os evitantes eram julgados. Qualquer um destes estilos não é de todo agradável de desenvolver!
Quotes favorita:
“Em vez de pensar em como você pode mudar para agradar seu parceiro, como aconselham tantos livros sobre relacionamentos, pense: essa pessoa pode fornecer o que preciso para ser feliz?”
“Sentir-se próximo e completo com outra pessoa – o equivalente emocional de encontrar um lar”
Temas: Deixar de fumar; Saúde mental e física
Este livro destaca-se de outros da mesma área por não fazer o leitor sentir-se mal por fumar. Não apresenta factos horrorosos atrás de factos horrorosos (dos quais já todo o fumador foi bem informado) acerca dos malefícios de fumar. Em vez disso, mostra as vantagens de fumar e de como a vida sem nicotina é inegavelmente melhor. Como psicóloga, gostei especialmente da explicação dada acerca de erradamente os fumadores associarem o tabaco a sensações de relaxamento – muitas vezes sendo usado para gerir ansiedade. O autor é exímio a explicar que o tabaco não tem propriedades ansiolíticas. Quando se deseja um cigarro, a dependência à nicotina já está instalada e a sensação de tranquilidade que fumar providencia vem do fim dos sintomas de abstinência, não da regulação de uma emoção difícil.
Achei incrível e realmente inspirador o autor depois de mais de 30 anos e mais de 100 cigarros por dia (leste bem!) ter conseguido largar o vício
completamente. Inclusive o vício foi tão descontrolado ao ponto dele por um cigarro na boca para o acender e já ter um acesso entre os lábios.
Quote favorita:
“Benefícios de fumar:
"
Temas: Sexo; Relações amorosas; infidelidade
Esther Perel é uma referência na área das relações amorosas. Este livro sem dúvida que me fez pensar de forma diferente e olhar para questões relacionadas com infidalidade como eu nunca o tinha feito.
É um livro puramente teórico mas nem damos conta disso pois os exemplos de casais que acompanhou em terapia são tantos, e prefazem grande parte dos capítulos, que quase temos a sensação de estar a pensar os casos terapeuticamente com a autora.
Reforça a importância preciosa da comunicação entre casais e da necessidade de trabalhar nas nossas relações amorosas, pois os indivíduos mudam com o passar do tempo e com as relações acontecerá necessariamente o mesmo.
Saio desta leitura com uma visão mais ampla do que são as relações amorosas e do que é a infidelidade, porque as pessoas a realizam, consequências, etc e faço-te sem julgamento com muito mais facilidade. Esther é incrivelmente
empática na sua apresentação dos casos.
Gostaria de ter tido mais referências não heteronormativas, de modo a tornar o livro mais inclusivo.
Quote favorita:
"O nosso parceiro não nos pertence. Ele é um empréstimo, com opção de renovação - ou não. Saber que podemos perdê-lo não tem de minar o compromisso. Em vez disso, exige um envolvimento ativo que os casais de longa data muitas vezes perdem."
Livros infantis
Temas: Limites; Comunicação; Educação sexual; Prevenção de abuso sexual
Este é um dos livros mais conhecidos para ensinar às crianças limites sobre o seu próprio corpo e sobre as suas relações.
Achei o livro muito bem conseguido no geral, fala de temas bastante importantes que podem ser difíceis de introduzir sem uma ferramenta que sirva de porta de entrada para o diálogo com os mais pequenos.
Assim, as crianças podem aprender coisas importantíssimas como o significado de “consentir”, o que são limites, quais os limites que posso ter e como eles variam de situação para situação. Fala também acerca de como algumas coisas fogem dos limites das crianças - hora de deitar; necessidade de tomar um medicamento. Menciona a possibilidade de mudar de ideias mesmo depois de ter consentido algo, explica como o consentimento não pode ser comprado nem obtido através do medo e também da importância
de respeitar os limites dos outros. Gostaria de ter visto mais ênfase ainda na importância de não guardar segredos aos pais, segredos esses impostos por outros adultos e até desenvolvida um pouco a ideia de que mesmo que eu sinta que consenti algo, algumas ações de adultos para com crianças são sempre erradas, em QUALQUER circunstância. Nem sempre existe a possibilidade de consentimento. Achei esta parte importante pois, por vezes, o abuso pode ser percecionado como uma forma de receber carinho ou pode estar acoplado com sensações físicas que nem sempre são más e causam dor. Não é por isso que deixam de ser abuso. Aconselharia os pais/cuidadores a explorar também este tópico adicional.
Quote favorita:
"Quando um adulto é incorreto com uma criança, a culpa é sempre do adulto!"
(Achei que fazia refletir a criança, os pais/cuidadores e até a criança que aqueles pais já foram)