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Porque raio é que não consigo parar de me preocupar com a opinião dos outros? 

A pergunta de milhões. Atormenta muitos de nós, apesar de algumas pessoas pregarem que são imunes ao que os outros pensam, mas será isso mesmo verdade? 

 

Se fizermos uma viagem no tempo, até ao Homem primitivo, podemos verificar que a nossa espécie se agrupou entre si de maneira a potenciar a sua sobrevivência. As tarefas eram divididas, cada um se ocupava de certas funções e as comunidades agiam para garantir o bem estar coletivo. 

Os humanos que não agiam desta maneira, e vagueavam sozinhos, certamente não tinham tantas hipóteses de sobreviver, podiam morrer de fome, atacados por um predador enquanto dormiam ou ter um outro qualquer fim trágico, cuja probabilidade aumenta quando deambulamos sozinhos. 

Ora essas pessoas com tendências mais “individualistas”, acabaram por morrer mais precocemente que os restantes, não se reproduzindo e não passando os seus genes à descendência (que não chegou a existir). Quem teve biologia na escola deve reconhecer que isto se trata de seleção natural -  As características mais vantajosas a uma espécie perpetuam-se ao longo dos anos, e as menos vantajosas vão sendo eliminadas com o tempo (exatamente pela não transmissão à descendência dessas características) 

 

Assim, quanto à necessidade de pertença e aceitação por parte dos outros, no ambiente primitivo, falamos de algo de vida ou de morte, pois o facto de pertencer a uma comunidade garantia proteção e satisfação de necessidades essenciais. Estar sozinho significava muito provavelmente morrer (está aqui tema para um outro texto, não? Quantos de nós não têm esse medo super ativado?). Foram esses os indivíduos que viveram e se reproduziram, os gregários. 

Tem-se vendido muito a ideia de que não nos devemos importar genuinamente com aquilo que os outros pensam de nós, é um facto. No entanto, tudo na nossa história evolutiva nos diz para fazermos exatamente o contrário! Para garantirmos que somos aceites e pertencemos a um grupo! Ora, eu sou aceite e garanto a minha pertença...agradando aos outros. 

Não é realista achar que esse estado de imunidade aos outros é alcançável. 

Até certo ponto, o receio de ser excluído é protetor, faz-nos cuidar das nossas relações! Até posso desagradar o outro, mas posso fazê-lo com compaixão e lembrando-me de que ele tem sentimentos. Posso negar um favor dizendo - “Gostava muito de te ajudar, mas realmente não tenho capacidade para isso” em detrimento de mandar a pessoa para um certo sítio por me ter pedido algo que não pretendo fazer! 

O problema surge quando essa necessidade de agradar aluga um T3 na nossa cabeça e se torna uma prioridade, mesmo face às nossas necessidades pessoais, criando-se uma preocupação excessiva com o que os outros pensam de nós. 

 

Muitos de nós tivemos experiência precoces na infância que cimentaram a necessidade de validação alheia, seja de pais, familiares, amigos ou professores. Fomos aprendendo nas entrelinhas dos nossos eventos de vida que se fizermos as coisas bem, os outros nos tratam bem e gostam de nós. Então agradar ao outro torna-se a única forma de receber amor. Pode ser espantoso para alguns, mas muitas pessoas ouviram dos seus próprios pais “se não fizeres X a mãe não gosta de ti”, aqui a mensagem é claramente transmitida, mas também o pode ser de maneira mais indireta - Não fiz X e agora o meu pai não me fala há várias horas. O amor recebido do outro torna-se condicional, ele existe apenas enquanto eu agradar e fizer as coisas bem. Caso contrário estou desemparado. 

Então, torna-se intolerável a possibilidade de alguém nos poder julgar negativamente, e daqui, costumam resultar emoções como a ansiedade, a tristeza, a vergonha, pensamentos de auto-ódio e medo intenso de falhar que são grandes facadas na nossa auto-estima. No limite, estamos perante o diagnóstico de ansiedade social (a corriqueira fobia social). 

Com toda esta carga emocional tão difícil de gerir, o problema fica ainda pior quando modificamos o nosso comportamento e fazemos coisas, ou deixamos de fazer, devido à opinião dos outros. Deixamos de ser donos da nossa própria vida e de fazer o que nos faz sentido. 

Preferimos, sistematicamente, desagradar-nos a nós mesm@s do que fazer algo que pode desagradar o outro - e atenção que estou não estou a falar de causar dano deliberadamente, de prejudicar terceiros com intenção. Falo de recusar fazer um favor, negar um convite, fazer coisas para as quais não me sinto preparada.  

Anularmo-nos em prol de agradar a toda a gente é um ciclo vicioso que tento demonstrar neste esquema que fiz. O problema acaba por ser a solução que aplicámos para tentar resolver o problema inicial! 

ciclo vicioso da necessidade de agradar

Este ciclo é um caminho absolutamente exaustivo e, spoiler: nem sequer resulta! 

Motivo 1 - É impossível toda a gente ter a mesma opinião e gosto pessoal. Depositares toda a tua energia nisso provavelmente vai-te fazer sentir deprimid@ ou até criar ressentimento pelos outros (“fiz ABCDEF por ele e nem assim me respeita”)  

Motivo 2 - Tudo isto tem ainda uma outra camada - Se sentires que os teus vínculos apenas se mantêm porque satisfazes sempre toda a gente e nunca dizes um “não”, nem sequer terás segurança nos teus vínculos! Sentes sempre que a qualquer momento a relação pode ruir, pois não é baseada na real aceitação do teu Eu, das tuas necessidades e limites. Ou seja, aquilo que pretendes alcançar, não tendo limites, é exatamente o que se tornará impossível por não teres esses limites. Nunca em terapia quando eu perguntei “e o que é que a pessoa X tem de bom?” eu ouvi de volta a resposta “adoro que me faz sempre as vontades todas, nunca demonstra opinião em nada e é sempre tudo exatamente como eu quero”. Não é isto que faz de nós boas companhias. 

 

Então se não posso agradar a todos, faço o quê? 

Escolhes não te desagradar a ti mesm@! Tens os outros em conta, sim. Mas tu és a tua principal pessoa, a tua prioridade.  

A chave para viver com esta necessidade humana de ser gostado, por mais estranho que pareça, é mesmo fazer as pazes quanto a ela: 

  • Aceitar que quando alguém não gosta de mim isso é altamente desagradável 

  • Mas também é normal! Toda a gente te agrada? Porque é que terias que agradar a todos? Isso é realista de algum ângulo? Descobrir as tuas necessidades e o conjunto de ações que tens que fazer para as teres asseguradas. 

  • Selecionar com bastante cuidado quais são as pessoas cuja opinião tu vais dar atenção - devem ser pessoas de quem gostas, que gostam de ti e até que são um exemplo na área em que estão a dar-te a tal opinião 

Resumindo e baralhando, não podes agradar a todos! E mesmo que pudesses...isso seria à custa de te desagradares constantemente a ti própri@. 

Parece-me uma maneira bem ingrata de viver a vida 

Agradarás a uns e desagradarás a outros. Talvez isso seja sempre desconfortável. Aceita o teu desconforto mas não deixes que ele condicione as tuas acções e a tua forma de viver a vida ♥️ 

 

Não podes mudar a tua biologia nem origem genética, não podes mudar o que pensas (o pensamento é incontrolável), não podes mudar o que sentes (podes apenas gerir), o que está nas tuas mãos é o teu COMPORTAMENTO!  

Tem em consideração os sentimentos dos outros, mas faz apenas aquilo que te faz sentido, mesmo que a reação do outro te dê desconforto ou mesmo medo. Qualquer relação saudável tem necessariamente que ter espaço para os limites individuais de todos os envolvidos. Se não tiver...há toxicidade. 

 

Esta é a forma saudável de lidares com o facto de que te importas com a opinião dos outros! 

Ser 100% imune a isto...está fora do nosso poder

Deixo então uma reflexão final: Se não peço diretamente a opinião a algumas pessoas, porque vou guiar o meu comportamente segundo o que acho que essas pessoas podem pensar de mim?

PS: Não podia deixar de dar um agradecimento especial a quem me acompanha no instagram e respondeu às caixinhas de perguntas que vou deixando. Este texto foi inspirado nessas mesmas perguntas! Saber o que vos interessa é muito importante para mim ♥️ ♥️ ♥️ ♥️ 

Adorava saber a tua opinião acerca do que leste :) Se tiveres algum comentário a partilhar comigo, por favor vai em frente!

Obrigada!
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